Pesquisadores da Universidade de Pernambuco (UPE) e da Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope) vão começar a testar o uso do plasma do sangue de quem já teve a Covid-19 no tratamento de infectados pelo novo coronavírus. Os primeiros voluntários começaram a fazer as doações. Se o estudo der certo, a técnica vai poder ajudar na recuperação dos pacientes.
Quando alguém entra em contato com um vírus, o corpo passa a produzir substâncias para tentar se defender. Algumas delas são os anticorpos neutralizantes.
Eles impedem que o vírus se multiplique dentro do corpo e, assim, ajudam o organismo a controlar a infecção. O que a pesquisa quer saber é se esses anticorpos, produzidos por uma pessoa que teve a Covid-19, podem funcionar no corpo de outra que está enfrentando a doença.
Guilherme teve a Covid-19 em abril, quando passou uma semana internado, dois dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e precisou ser entubado. Ele conseguiu ficar livre da doença depois de um mês inteiro com sintomas e, agora, quer usar a experiência nada boa para ajudar outras pessoas.
Guilherme doou duas bolsas de plasma do sangue dele para um trabalho de pesquisa coordenado pela universidade de Pernambuco, com apoio do Hemope. Os pesquisadores querem saber se essa parte do sangue de quem já ficou doente pode ajudar outras pessoas a se curar, já que é no plasma que ficam as células de defesa do organismo.
?Eu sei que sangue salva vidas e, assim como eu fui ajudado dentro de um hospital, eu queria ajudar as outras pessoas a se curarem. A partir do momento que eu podia, com meu sangue, meu plasma convalescente, ajudar as pessoas, eu decidi vir?, declarou.
A pesquisa ainda está na fase inicial, recrutando os doadores. Antes de doar, eles têm que passar por exames para saber se tiveram mesmo a Covid-19 e se a quantidade de anticorpos que o corpo desenvolveu é suficiente para ajudar outras pessoas. A intenção dos pesquisadores é conseguir, nesta fase, pelo menos 350 voluntários.
Para ser doador, é preciso ter tido os sintomas da Covid-19 e se recuperado da doença há, pelo menos, 30 dias. É preciso ser homem, ter entre 18 e 69 anos de idade e apresentar o resultado do exame que confirme a infecção pelo novo coronavírus. Depois da coleta do plasma, os pesquisadores vão testar a técnica em pacientes que estão com a doença.
Segundo Demócrito Miranda Filho, coordenador da pesquisa, é preciso ter tido sintomas da doença porque, de acordo com a literatura médica, pessoas que tiveram quadros mais graves da doença aparentam produzir mais anticorpos, que são, por sua vez, mais eficientes no combate à Covid-19.
?A gente tem relatos, até com o próprio coronavírus na epidemia de 2003, a Sars-Cov, ele foi usado também, em pequenas séries de casos. Na epidemia de Mers, do Mediterrâneo, também, e já com ebola, em outras doenças, sempre se recorreu a essa hipótese de que, se você tem um plasma rico em anticorpos, ele pode ser usado na fase aguda da doença?, explicou.
Trabalhos parecidos já foram feitos em outros países e por outros grupos de pesquisadores, com resultadores promissores, mas ainda não definitivos. Os médicos defendem que é importante entender a eficácia do tratamento em cada região.
?É muito importante que isso seja feito localmente, porque cada ser humano tem uma configuração genética diferente, e você pode ter uma resposta aqui que seja diferente de outro lugar, pode ser que tenha uma resposta melhor. Por isso, é interessante que você faça o estudo?, disse Evônio Campelo, médico e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Felipe Prohaska é médico infectologista e tratou de muitos pacientes com a Covid-19. Ele pegou a doença e também resolveu ser voluntário do projeto.
?A gente sabe o que tem sido o coronavírus no nosso dia a dia e como tem sido destrutivo para as pessoas. A gente tem tentado ajudar de várias formas, seja na linha de frente, seja de bastidor. E saber que seu sangue pode ajudar outras pessoas é mais um motivo para você se sentir feliz?, declarou. Para agendar a doação, o telefone do Hemope é (81) 3182.4630.
Pernambuco confirmou, nessa segunda-feira (13), 431 casos da Covid-19 e 57 óbitos por causa dessa doença provocada pelo novo coronavírus. Com isso, o estado passou a contabilizar 72.901 confirmações e 5.652 mortes, números que começaram a ser registrados desde março, no início da pandemia. (G1)
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