O professor Inaldo Moreno, 47 anos, tem o costume de ler notícias logo cedo. ?É como um vício?, diz ele. Na última segunda-feira (24), ele se deparou, na tela do celular, com a história de Heloísa, 9 anos, e de sua mãe, Kátia Davi Cordeiro, 45, contada no Diario de Pernambuco. Kátia usava um compensado retirado de uma cômoda velha como quadro escolar. Assim, auxiliava a filha nas tarefas escolares de português e matemática. Inaldo se sensibilizou com a história e resolveu doar um quadro de verdade para a criança.Inaldo mora em Belém do São Francisco,a quase 500 quilômetros do Recife, e fez tudo por telefone. Kátia pesquisou o preço do quadro, apagador e canetas em livrarias de Casa Amarela, onde mora, e repassou o valor mais em conta para o professor. ?Deu um total de R$ 62,80, mas ele pediu para comprar outros materiais escolares para Heloísa até completar R$ 100 e depositou o dinheiro direto na conta da loja?, contou a mãe, que fez magistério e já teve uma escolinha no bairro, fechada por inadimplência.
Na noite de ontem (25), Heloísa e a mãe fizeram uma vídeo-chamada para agradecer ao professor. Também inauguraram o quadro novo com uma mensagem de agradecimento ao jornal, enviada para WhatsApp da repórter. ?Obrigado ao Diario de Pernambuco pela matéria da mãe que usava uma folha de compensado para ensinar as matérias da filha. Esses são os materiais que foram doados por seu Inaldo. Marcionila Teixeira (a repórter), obrigada.?
Mãe e filha marcaram de conhecer Inaldo assim que ele vier ao Recife. ?Sou professor e conheço a realidade de estudantes pobres. Muitas vezes a gente se sente incapaz, mas hoje eu tenho condições de fazer algo por alguém. Ontem à noite elas me surpreenderam com a chamada de vídeo e ficamos quase meia hora conversando. A história dela me comoveu?, disse o professor.
A professora de Heloísa, Maria do Carmo Santos, disse que o esforço dos pais durante a pandemia tem sido imenso e gratificante, ao mesmo tempo. Ela ensina na Escola Municipal Rosemar Macedo de Lima, na Avenida Norte, no Recife, para crianças de 8 e 9 anos. Muitos pais somente conseguem enviar as tarefas dos filhos pelo WhatsApp da turma à noite, quando chegam do trabalho com o único celular disponível na casa.
Ao longo da pandemia, outras histórias contadas no Diario também estimularam a solidariedade. Uma delas foi a doação de dezenas de violinos para estudantes do Movimento Pró-Criança que, sem aulas presenciais, estudavam em casa com garrafas PET simulando o instrumento para não perderem a prática.
Outra onda de solidariedade surgiu com a matéria do professor Arthur Cabral, que ensina em uma escola pública na Vila da Fábrica, em Camaragibe. Ele percebeu que meninos e meninas estavam sem participar das aulas porque não tinham celular e acesso à internet. Depois da repercussão da história, todos os estudantes receberam um telefone.