Em outras ocasiões, panelas, copos, colheres de pau e bule estimularam batucadas na sala ou viraram utensílios no parque ? ali descobriram que as tampas apertadas na areia formam desenhos inusitados. A professora usou ainda flores e frutas, como as do jambeiro existente na creche. As crianças ainda exploraram o corpo e o movimento correndo entre lençóis, brincando com bacias e sacos com água.
"Quero que meus alunos tenham prazer em aprender. São as crianças que conduzem a aprendizagem. Claro que o professor tem o conhecimento, mas não é o detetor do saber. São os alunos que vão mostrar o caminho que devo seguir. Preciso escutar meus alunos, observar o que eles têm para mostrar", destaca Mirtes, que diz estar em constante aprendizagem como docente.
No projeto, além de estimular o livre brincar, a professora envolveu as famílias dos estudantes. Os pais foram estimulados a resgatar lembranças de brincadeiras nas suas infâncias. Contribuíram também levando caixas de papelão e outros materiais. "Perguntei aos pais: se a criança que você foi um dia viesse te visitar, ela te reconheceria?", conta Mirtes.
O trabalho de Mirtes Ramos é inspirado no pedagogo italiano Loris Malaguzzi, que após a segunda guerra mundial, foi o criador da ideia de Reggio Emília. Foi este educador quem constituiu um princípio de ensino em que não existem as disciplinas formais e que todas as atividades pedagógicas se desenvolvem por meio de projetos, que surgem através de sugestões dos próprios alunos, sendo desenvolvidos em diferentes linguagens.
Como prêmio, Mirtes ganhou um vale-presente no valor de R$ 15 mil e segue na disputa pelo título de Educador do Ano, cujo resultado sairá em outubro. Além de Pernambuco, os vencedores representam Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo.
Dos 10 projetos campeões, cinco são trabalhos realizados com alunos do ensino fundamental (somando anos finais e iniciais), três com turmas do ensino médio, um de gestão e outro da educação infantil (justamente o de Mirtes).
O Prêmio Educador Nota 10 foi criado em 1998 pela Fundação Victor Civita que, desde 2014, realiza a premiação em parceria com Abril, Globo e Fundação Roberto Marinho.
Professora desde os 14 anos, Mirtes tem no currículo outros prêmios, todos voltados para a primeira infância. Em 2002, como professora da rede municipal de Camaragibe, no Grande Recife, ganhou um prêmio nacional, organizado pelo MEC, com um projeto sobre a pintora Tarsila do Amaral. Em 2014, trabalhou um projeto de alfabetização baseado em Luiz Gonzaga. Foi quando recebeu o convite para apresentar a iniciativa em Coimbra, Portugal, durante um fórum de educação. Em 2015, o projeto Tenho medo, mas dou um jeito foi o premiado, entre os projetos de Pernambuco, no Prêmio Professores do Brasil.
Em 2018, Mirtes foi uma dos quatro docentes pernambucanos, entre 45 vencedores, da 10ª edição do Prêmio Professores do Brasil, realizado pelo Ministério da Educação (MEC). Também na Creche Municipal João Eugênio, ela desenvolveu, e 2017, o projeto Vou contar uma história pra tu, tá?, para alunos de 2 anos de idade. Além de estimular a leitura dos pequenos, por meio de livros e contação de histórias, usando fantoches e fantasias, a iniciativa promoveu mudança nos pais e vizinhos dos estudantes.
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